Se há tarefa que,
garantido, me põe de mau humor, é a de escrever prefácios. Dois o ano passado. Cedendo,
pelo medo de parecer grosseiro se recusar um favor a quem tão abertamente o
pede. E vá de pensar frases torneadas de modo a que as opiniões pareçam
objectivas e os elogios sinceros. Esforço que resulta em dores de cabeça,
raivas surdas, pontapés no vazio, promessas solenes de nunca mais.
Um álbum de pintura. Quadros que nada me dizem, quanto mais os olho mais
nevoentas se me tornam as ideias. Sentindo-me tolo e, pior, hipócrita, alinho
frases sobre a harmonia dos coloridos do artista, a tensão que soube emprestar
aos volumes, o refinado tratamento do chiaroscuro, com reminiscências
de Caravaggio e Rembrandt.
Um livro de reportagens fotográficas. Retratos. Cenas de rua. Fotografia
inexpressiva, de efeitos pretensiososos. Para não cair de desespero e
frustação, apoio-me em Stieglitz, Kertész, Atget, Cartier-Bresson, ao mesmo
tempo que olho de lado, involuntariamente receoso de ouvir já as gargalhadas
que vão dar os que por acaso lerem as minhas asneiras.
O prefaciado, esse de certeza vai gostar. Cumprimentos, merecidos ou não,
comparações com os grandes, tudo lhe será bálsamo. Virá depois citado nos
anúncios e nos cartazes que evitarei olhar, para que não se reacenda a vergonha
do meu fingimento.