Exceptuando um ou
outro pesadelo, os meus sonhos quase sempre me têm sido uma excitante forma de
exploração psíquica, tanto mais que em geral guardo deles recordações vívidas.
Nessa muito presente lembrança reside talvez a origem do bizarro fenómeno a que
por vezes me sinto sujeito. Acontece que durante certos sonhos tenho
consciência de sonhar de novo sonhos anteriores, o que me transporta para uma
inquietante duplicação da memória, do sentido da realidade e do eu, e ao mesmo
tempo me impede de saber se, como suspeito, apenas uma parte de mim sonha,
enquanto outra espreita insondáveis mistérios.
"Larachas", comenta um conhecido a quem falo disto. E embora ele saiba
que não me convence, tenta acertar uma mocada definitiva na minha fantasia,
acrescentando: "Isso provavelmente é a consequência de refeições pesadas.
Uma questão de química."