No geral são diminutos os sintomas que prenunciam o fim de uma amizade e, também no geral, raros aqueles que sabem apercebê-los quando ainda em embrião.
Começam com ligeiras diferenças no tom de voz, pequeninos esquecimentos, subtis mudanças nas fórmulas de cortesia, têm por vezes a jocosidade despropositada que trai a falta de à-vontade. Sente-se que o abraço é forçado, e o aperto de mão, sem ser ainda o de pele húmida que denuncia o impostor, transmite algo da moleza própria da falsidade.
Como ia dizendo, raros se dão conta, mas verdade é que tudo se aprende. Eu próprio, duro da cabeça, precisei de tarimba para distinguir os sintomas do amigo-da-onça, mas hoje em dia, felizmente, até parece que tenho faro de cão. E ajo em consequência: mordo logo, o que desagrada a quem prefere a amizade que vai lentamente definhando e apodrecendo.