Há tempos, em conversa, um amigo pedia que lhe dissesse – "Aqui entre nós" – que pensava eu das obras dos jovens literatos portugueses.
A ele, quase jovem, desagradou a minha opinião, forçosamente condicionada pela idade, acrescentando que compreendia mal que eu afirmasse que à literatura portuguesa dos mais novos falta dádiva.
Expliquei, ele continuou céptico, ligeiramente irónico, mas é essa a minha opinião: a generalidade dos rapazes e das meninas aprendeu a construir, fazem-no por vezes com talento e conhecimento das regras. Todavia, quando se espera um edifício acabado, a fachada colorida, o telhado em cima, descobre-se o esqueleto, vêem-se os andaimes e as cordas, as polias, os baldes de cimento, os restos de entulho.
Constroem sem arremate, e isso nem é grande pecado, vem da pressa da juventude, de boa vontade se lhes perdoa. O mal está em que do que lá deixam nada me leva a sonhar.