terça-feira, junho 28

Striptease

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Despimo-nos quando escrevemos. Banal ou não, cada frase é um momento de Striptease, um apelo, uma cedência, um desejo, um grito, por vezes um pedido de esmola, um anseio de carinho.

Pelos jornais passo os olhos, há muito enojado do conteúdo rasca – "Mamas e Cuecas de Cristina Ferreira",  pais violadores, mortos no contramão, idosa assaltada – e no Facebook não entro, o tempo que me sobra dos livros gasto-o, fascinado, na leitura ou na visita de blogues. Demorando nos favoritos, lendo aqui e ali criquices e futilidades, lamentos, choros escondidos, dor funda, poesia sem jeito, para de súbito topar com boa prosa e verdadeira ciência, um poema que alegra, um desabafo que comove.

Quando os anos findam aparecem dessas listas a classificar o melhor disto, o número um daquilo, já no passado as vi de autores de blogues que mutuamente  trocavam elogios e galhardetes. Mas no meu parecer é hora de que um desses académicos que se esfalfam nas análises de Saussure, Barthes, Derrida e Baudrillard, se deite a estudar a blogosfera portuguesa. Cuidando, todavia, em deixar o trigo e o joio. Nada de escolhas, prémios ou separações, pois é a amálgama do bom, do sofrível, do mau, do ridículo e do péssimo que faz o encanto desta destravada  barafunda em que, voluntariamente ou por descuido, mostramos muito do que somos, do que nos diverte e aflige. De facto um Striptease.