Num mundo de surpresas e incertezas, o Alípio destaca-se pelo fanatismo de querer que muito aconteça, se comporte e resulte segundo as regras por ele estabelecidas. Ora se duma engrenagem se espera que funcione e não empanque, um ser humano ou um animal nem sempre reagem como se deseja, e logo refilam se a exigência lhes desagrada ou parece excessiva.
Dado o carácter do Alípio, facilmente se compreende que o ambiente doméstico há muito se possa comparar a uma situação de guerrilha: a esposa e a filha as forças atacantes, ele o defensor, entrincheirado no que considera ser o bom ramerrão da vida doméstica.
À semelhança dos generais que não se limitam à estratégia, mas querem mandar em tudo, mal se viu casado o Alípio não esperou para estabelecer regras e horários, levando o cuidado a escrevê-los num caderninho. Além de assim garantir a disciplina, retirava à esposa a possibilidade de se desculpar que não sabia ou tinha esquecido.
Obcecado e autoritário, concebe mal que a Noémia desobedeça, enquanto ela, muito mulher nas manhas, finge, finta, e tem na Paula, filha única, uma rabiosa aliada.
Do futuro genro esperava ele, se não um aliado, pelo menos um sujeito capaz de solidariedade, mas o Júlio, de macho tem tão pouco que será milagre se dali vierem netos. De modo que vendo-se em minoria, e cercado de oponentes, um domingo ao almoço lançou-lhes o ultimato: ou aceitavam as suas regras, ou então...
Certo de que cederiam, nem tinha pensado numa alternativa, menos ainda que a réplica viesse da herdeira: - Ou então quê? Voltas pra Soraia? Olha que ninguém te vai sentir a falta!
O golpe foi tão certeiro que parece outro homem, e vive agora um inferno. Como é que sabiam? E se a brasileira não se ficar pelas ameaças que lhe tem feito?