Devia ser o contrário, mas quanto mais
visivelmente arrogantes, cheios de si, seguros do que julgam ter visto, que julgam
saber e do que o mundo lhes deve, cônscios da sua importância, da alta craveira
a que se elevam, da unicidade da pessoinha que são, mais me esforço para manter
o sério.
Não vá você agora julgar que me refiro a ministros, banqueiros, cientistas
geniais, escritores candidatos ao Nobel.
Com esses não tenho trato, vivem noutra rua. Falo de gente no meu dia-a-dia, o
vulgo, o povão, a grande massa que vai dos chamados humildes à mais mediana das
medianias.
Houve tempo em que a precaução mandava que os humildes se comportassem com
humildade, e os que o não eram fingissem as virtudes de mostrar respeitinho,
aceitando todos que cada macaco se aquietasse no galho onde as circunstâncias o
tinham posto. Mas na atmosfera energética e acelerada em que vivemos, desapareceram
os galhos e, sem apoio para assentar o traseiro, a macacada perdeu as
estribeiras.
Há dias calmos, noutros ganho a certeza de que a maioria dos que me rodeiam, de
facto caiu da palmeira para o volante. Mesmo os que não tiraram carta nem têm
carro.