Acontece a todos, o revelarmos de vez em quando o que, por facilidade, chamamos um segredo. Em geral não é segredo, apenas um modo trivial de reforçar uma simpatia ou intimidade.
O caso é que, tal como o dinheiro, também o significado das palavras está sujeito à inflacção. Hoje em dia, nem aquilo que com reverência se denominava segredo de Estado, é levado a sério. Anuncia-se um segredo político, logo uma fonte confidencial com pérfidas intenções o espalha aos quatro ventos.
Não quer isso dizer que não haja segredos genuínos e bem guardados. Ao ler isto talvez você recorde os que tem, da mesma maneira que hoje rebusquei na caixa-forte onde aferrolho os meus. E o motivo deste arrazoado é um que lá encontrei e do qual me desejaria libertar, mas não sei como fazê-lo.
Alguns acharão que basta contá-lo, outros recomendarão o confessionário ou o psicanalista. Contudo, por razões várias, nenhuma dessas soluções me parece viável, de modo que o deixo onde está, até que um dia destes me atreva a revelá-lo sob o disfarce da ficção. Que é esse o vazadouro onde o escritor seguramente despeja aquilo que o aflige.