No trato social, em família, com os amigos, no trabalho, a cada momento que lidamos com o semelhante somos obrigados a determinadas regras, e a aceitar as inevitáveis diferenças de carácter e maneira de agir, caso contrário é quase certo que, como diz o Faustino dos táxis, “a engrenagem gripa”, e demora a que a situação se recomponha.
Tirando os que por birra ou feitio são avessos, de modo geral seguimos a regra e sujeitamo-nos ao que ela implica, sabemos que umas vezes teremos de recusar e noutras de ceder.
Dito desta maneira é fácil concordar, mas tratando-se do Zeferino outro galo canta, porque se houvesse lista dos que por princípio, e trate-se do que se tratar são contra, seria ele número um.
Tem ainda uma outra bizarria, e essa tão entranhada que nem dá conta que a usamos de propósito para o irritar. Cai na esparrela, talvez porque recuse acreditar que sendo nós amigos, e isso desde a infância, achemos graça a pregar partidas. Por outro lado, verdade é que muitas dessas brincadeiras são sem maldade, de algumas até se pode dizer que provam a saudável criancice das nossas relações com o Zeferino.
A bizarria que é o seu calcanhar de Aquiles, que umas vezes achamos engraçada, mas noutras nos dá vontade de o mandar àquela parte, consiste em que quando o convidamos para um almoço ou jantar, e vamos a caminho do restaurante, ele de repente exige que se pare num snack-bar ou num McDonald’s, justificando que, por pouco que seja, tem de debicar alguma coisa, caso contrário cai-lhe a comida na fraqueza. É que se não o fizer não podemos ter ideia do que são as consequências. Das poucas vezes que por uma razão ou outra, não satisfez essa exigência do seu metabolismo, sofreu dores terríveis, ficou de cama, em duas ocasiões teve de ir às urgências.
No começo barafustávamos, e entrava ele no snack-bar, seguíamos nós para o
restaurante, uns mal humorados, outros rezingando contra aquela madurice, pois ninguém
com a cabeça no seu lugar se lembaria de fazer aquilo.
Foi assim que um de nós, já não recordo quem, sugeriu que pelo menos uma vez o iríamos
pôr em xeque-mate, bastava combinar com o empregado e fazer de modo a que,
quando ele chegasse, parecese que já íamos na sobremesa.
Entrou a sorrir, mas ao olhar para a mesa pareceu que lhe dava um ataque:
- Grandessíssimos filhos da...!
Ia virar-nos as costas, mas o Severino agarrou-lhe o braço e fê-lo sentar, foi acalmando, mas queixoso de não compreendermos que é doença a sério, pode-se ver no Google.