São tantas como os indivíduos, e muito
pessoais, as maneiras de cada um estar no mundo, idem as suas vivências,
aflições e desejos, de modo que a experiência alheia de pouco ou nada serve.
Pode distrair ou assustar, surpreender, mas escorre como água sobre um oleado,
e pronto voltamos às nossas aflições e às alegrias mais ou menos fingidas que
calafetam o ramerrão diário.
Detenho-me
a reler o que atrás fica e, modéstia à parte, parece-me prosa adequadamente
sombria para esta manh nórdica, escura, fria, nevoenta, o termómetro a descer para
os anunciados cinco graus negativos de logo à tarde.
Uma
coisa puxa outra, os pensamentos enrolam-se, desenrolam-se, misturam-se, dou
comigo a recordar os dias longínquos da minha juventude, a ânsia de deixar
Portugal, a extraordinária força que crescia em mim para me libertar do
pesadelo de uma vida sem dignidade e sem futuro.
Involuntariamente,
no seguimento dessa recordação vêm-me à idéia os mails que nos últimos tempos recebo de jovens portugueses que me
questionam sobre a Holanda, para onde desejariam emigrar. Para minha surpresa,
quase todos perguntam também se o clima aqui não será demasiado rigoroso,
se custa aguentá-lo.
É
então que me digo que as coisas em Portugal não devem ir tão mal como os
pessimistas badalam, e felizes aqueles que querem (podem) decidir da vida em
função do clima.