quinta-feira, novembro 18

A mão no joelho

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Éramos sete ou oito no terraço do hotel e creio que ninguém reparou quando, com familiaridade de amante ele lhe pousou a mão no joelho, e ela, o sobrolho franzido, lha sacudiu com um gesto brusco.

Talvez fosse incómodo que sentia, desavença pequena, uma daquelas irritações momentâneas que logo esquecem, mas para casal em vésperas de casamento achei de mau agouro.

Isto foi há-de haver seis anos. Vieram os filhos, uma rapariga, um rapaz. Na aparência a sua vida era como a de tantos outros da mesma idade e com os seus meios, sem sobressaltos nem aflições de maior.

Quando tempos atrás ele me disse que se iam divorciar, e estranhou não me ver surpreso, estive tentado a contar-lhe a minha recordação, e outras pequeninas ocorrências que tinha observado. Não o fiz, achei pretensioso dar-me ares de profeta ou conhecedor dos sentimentos alheios.

Mas agora falo contigo: és tu sensível aos alarmes, aos pequenos gestos de brusquidão só pequenos na aparência?