Em muitos aspectos
fui precoce. Aos quatro anos apanharam-me deitado com a Marta, ela já nos cinco.
Para que aprendêssemos, humilharam-nos com palmadas no rabo, mas ambos
descobrimos que era melhor repetir. E continuámos a fazer “porcarias”.
Aos cinco comecei a ler o jornal e teria sete ou oito quando resolvi fazer um:
quatro páginas de rabiscos. Montei quiosque nas escadas de casa, a Marta e os outros
esperavam vez, compravam-no, pagavam com uma pedrinha, "liam" e
devolviam-mo, para que o seguinte também conhecesse o gosto da compra e da
"leitura".
Fui precoce, mas devo ter ficado criança (atrasado, se quiserem) e este blog é
como que a continuação do jornalzinho da meninice. Digo isto a sério, porque me
dou conta de que há regras e civilidades que desconheço, e nunca aprenderei.
Nos blogs de nome, os seus autores e colaboradores atentam nos aniversários,
nas efemérides, registam que o blog X alcançou o milhão de visitas, informam
que o blog Y se tornou “incontornável”. Dizem-nos, com urgência, que é
imprescindível tomar nota do que escreveram o Jorge, a Teresa, o Francisco, a
Susana… Que a Margarida cada dia se torna mais “acutilante”. Põem-nos ao
corrente de que houve jantares, jantares onde o Francisco, a Manuela, o Diogo,
o Eduardo foram “absolutamente brilhantes”.
Deveria mortificar-me a ignorância das regras, o sentir que me são alheios os
mundos onde as ideias esfusiam e as personalidades se tornam “incontornáveis”.
Deveria mortificar-me, mas não sofro. Vale-me o ter ficado criança.