Pobre Benjamim. Na aldeia a casa é fronteira à nossa, numa quelha de dois passos de largo, e ele, com o catarro, tosse e escarra numas agonias de quem está às portas da morte. E talvez esteja, com uma tensão arterial excessiva e, diz a Aida, a mulher, um sangue tão grosso que lhe deu a trombose e ficou meio prendido do braço esquerdo e da perna.
O pobre, magro como uma cana, aflige-se por tudo e por nada. No outro dia, conta ela, quase lhe deu um ataque, porque estava a ver a telenovela e de repente a televisão "foi-se abaixo".
Mau grado o pouco prestígio que agora se lhe atribui, o ser-se licenciado em Letras concede na aldeia uma autoridade inesperada.
Assim a Aida, ao ver-me sair de casa aparece à varanda e pede consulta médica. No hospital a semana passada receitaram ao Benjamim uns comprimidos que não lhe fazem nada, até se sente pior e tosse mais. Por isso, como homem de estudos, eu lhe diga o que ele, com aquela tensão desmesurada pode comer ou não .
A prudência mandaria que me esquivasse com desculpas, mas numa situação assim a prudência não tem cabimento. E receito: o Benjamim que evite o sal, o açúcar, a carne de porco, o vinho, o café. Que evite as aflições e os nervos. Que não se canse a trabalhar.
Trabalhar já pouco trabalha, responde-me ela. E beber, só um copinho de vez em quando, coisa de nada. Infelizmente nenhuma força do mundo o vai obrigar a comer comida sem sal, a dispensar as bolachas, a carne de porco, o café com leite bem adoçado.
Encolho os ombros, ela encolhe os ombros, dizemos ambos que então será o que Deus quiser.