Por andanças da vida e no decurso de quase três décadas, ora foi diminuto ora quase inexistente o meu uso activo da língua portuguesa falada. Livros e jornais são insuficientes para acompanhar a sua evolução, e as conversas espaçadas podem alertar para um atraso, uma diferença, mas pouco ajudam a preencher as lacunas causadas pelo afastamento e o desuso.
Nasceu-me daí uma espécie de alergia a certos modernismos e brasileirismos importados com as telenovelas; incomodam-me os galicismos pedantes dos especialistas que só com eles conseguem falar das Letras e das Artes; posso mal com o jargão autárquico e parlamentar; aflige-me que vizinha analfabeta já não diga que toma remédios, mas que está com medicação.
A língua portuguesa seguirá o caminho que, com acordos ou discordando, lhe preparam os seus falantes e escritores. Esta minha birra é coisa pessoal, anota apenas uma espécie de desânimo causado pelo desfasamento de que falei, e talvez também por diferenças de sensibilidade. Mas não há jeito a dar-lhe, mesmo sem razão continuarei embirrento.
Deve ter sido nos anos oitenta que pela primeira vez ouvi a palavra plantel aplicada ao futebol. Assustei-me. Vinha do espanhol, eu só conhecia o significado original da palavra argentina que davam os dicionários: "grupo de animais de boa qualidade reservados para reprodução". Vertente assim e desafio assado, apostas, alavancagens, roupa vintage, produtos gourmet (por onde andarão as iguarias?). Passam por aqui citadinos a falar de ruralidade, sustentabilidade, alteridade geracional e workshops para idosos. Ninguém ri.
Ri eu, tempos atrás e com boa razão, ao visitar nesta santa pátria, onde não é só a língua que anda aos trambolhões, um Spa & Resort. Aí, num ambiente de desusado luxo, uma massagista de tacões agulha e generoso decote, fazia uma demonstração da sua técnica nos lombos de um autarca.