Cheguei aqui à aldeia em Setembro na ilusão de que seriam férias, mas pouco a pouco foram aparecendo os empecilhos, as restrições, as proibições, os mandamentos, as ameaças, os avisos, os olhares vesgos. Pouco a pouco também fui tomando consciência de que realmente me estavam a cortar a liberdade e que esse sentimento vinha tanto da acção da corja chamada governo, como de instituições com poderes variados e tão universais que à distância fazem de mim, nem sequer um títere mas um número, e ao seu bel-prazer determinam o meu grau de liberdade.
Pelo crime de ter colado uns cartazes da Oposição, aos dezassete anos passei umas horas preso numa esquadra em Viana do Castelo. Desde então vivi livre, mas sinto-me agora prisioneiro de poderes kafkaescos, um arco-íris que vai da Organização Mundial da Saúde ao meu vizinho, todos eles de dedo apontado, culpando-me de não entrar no rebanho e porque não dou o braço a torcer, nem à vacina.