Comecei cedo a sonhar, sonhei muito, mas consciente de que havia alturas onde nunca chegaria a voar, descobrindo por vezes que um aparente obstáculo era apenas a pedra de toque da minha capacidade de impedir que o sonho descambasse para o ridículo ou eu caísse nas armadilhas da ambição e da vaidade.
Sonhei muito mas tive a sorte de escapar ileso, talvez também porque sempre me espantou e continua a espantar a capacidade dos que, gritem-no ou não, trazem no peito o I am the greatest de Muhammad Ali.
De modo que vou andando, cumprindo o meu destino, curioso de cada amanhã, perguntando-me às vezes quantos ainda serão, porque àquele que adormece nada assegura que também acordará. E sonhos ainda tenho, ou pelo menos assim lhes chamo, mas se me dou conta são apenas a aceitação do meu destino. Mais não peço nem preciso: uma conversa aqui, uma historieta ali, um sorriso, os bons-dias do vizinho.
Encantou-me de manhã cedo o nevoeiro muito espesso que enchia o vale enquanto o sol iluminava os cumes, e fiquei a olhar não sei quanto tempo, numa alegria de infância, dando graças que este pouco encha o meu dia.