"Na Pousada de São Bento tinham parado para uma cerveja, a paisagem, e preparar Sarah para o que ia ver. De facto, ao chegarem à propriedade do doutor Castro, perto de Campo do Gerês, de novo acordou nela a vontade de filmar.
A casa, rés-do-chão e primeiro andar, era de boa medida, airosa, a varanda enfrentava uma vista a pedir cenas dramáticas e grandes planos, rostos apaixonados, corais de Wagner. A luminosidade realçava os contrastes, nesta encosta o sol a bater em cheio, aquela mergulhada em sombra. Era tudo ou nada, luz ou escuro, o meio termo não cabia ali.
O anfitrião, pequena estatura, oitenta e tal anos, olhos espertos, corado, ainda robusto, na mão uma bengala a que não se apoiava - "É prà apontar, e pra bater nos cães e nas raparigas, quando merecem ", explicaria rindo - tinha vindo recebê-los, dando grandes mostras de ternura por Jorge. A ela, com cortesia antiga, fizera uma pequena vénia e beijara a mão.
Entre autoritário e risonho impediu-os de pegar nas malas, a empurrá-los para a entrada - "As raparigas tratam disso!" - fugissem do sol, dentro de casa estava fresquinho.
As "raparigas", duas sessentonas joviais e despachadas, abraçavam Jorge, achando-o mais forte do que da última vez, mais bonito e, cochichando:
- É namorada?
- Não, só amiga.
As malas levavam-nas elas, não se incomodasse, vendo o patrão longe, a rir com a estranha, fizeram-se ronceiras, queriam saber.
Se a menina era estrangeira, e quantos anos, de certeza conheciam-se há muito, solteira não parecia, se calhar divorciada. Ou casada, seu maroto.
Jorge tinha de rir, aquilo não era interrogatório, mas metralha de curiosidade, nunca se punham assim quando vinha sozinho.
- Ficam no seu quarto, que é o melhor.
- Não, Teresa. Separados. Dá o meu quarto à senhora, eu durmo no outro.
- Boa te vai!
Às gargalhadas, que não podia ser, pra que estava a fingir? A trabalheira de fazer duas camas, arrumar dois quartos, pra quando toda a gente estivesse a dormir ficarem juntinhos no quente.
- Era o que faltava! Deixe-se disso, menino Jorge. O doutor está cada vez mais surdo, não ouve nada, e o nosso quarto é no rés-do-chão.
Também para elas "menino Jorge", a recordar gracejos, uma piscadela, as "maldades" que uma e outra lhe tinham feito.
Ambas no vigor da mocidade, e sem homem, ele adolescente, rondando-as, chegando-se, entontecido pelos calores, a fragrância daqueles corpos robustos, o almíscar de suor, cio, trabalho do campo e fumo da lareira.
Teresa, alma doce, tímida, secreta, toda carinho, precisava namoro, folguedo, correrias, dava-se com suspiros no chão da adega, na caminha de virgem pecadora quando estavam sós em casa.
Rita, força da natureza, tinha sido a primeira Arrebatara-o ao apalpar-lhe o tesão e, preso pelo braço, mordendo-o de beijos, fora-o empurrando para a eira, detrás do espigueiro. Antes de dar conta estava nu, ela de costas no folhelho, pernas abertas, seios inchados, fremindo das ancas, perdida de gozo, esgadunhando-lhe as nádegas a puxá-lo para dentro de si.
Rosnando, os olhos a rebolar. Que não parasse, não parasse, não parasse. E quando se veio, mais do que de prazer, o grito do seu orgasmo foi brado de vitória, urro animal, o orgulho de ter tirado os três ao menino. Sempre era outra coisa do que ser montada pelo Abílio Faísca, que apontava o galinheiro com o queixo, e de pé, contra o muro, mal lhe dava tempo de levantar a saia."
In Mentiras e Diamantes – Quetzal, 2013