São raros, e por isso memoráveis, aqueles dias em que nada acontece de espectacular mas se dá neles uma sequência de pequenas coisas agradáveis, momentos serenos, gentilezas que têm connosco, um carinho inesperado, alguém que nos lembra uma recordação feliz.
O de hoje teve para mim o aborrecido começo de logo de manhã um furo na estrada – creio que o segundo em mais de dez anos - mas bastou um telefonema a um amigo que, qual São Cristóvão, patrono de quem anda nas estradas, não tardasse a aparecer, fizesse o que tinha de ser feito, e foi como se me deixasse à minha boa sorte, pois a partir desse momento repetiram-se as pequeninas coisas de que atrás falo.
Um cínico resmungará que o dia ainda vai a meio, talvez seja cedo para deitar foguetes, mas também se diz que mão de criança depressa fica cheia, e é assim que me sinto: feliz, surpreso de que pequeninos nadas tornem luminoso um dia que pelo furo e outras razões mais, se anunciava sombrio.