sábado, maio 30

A desobediência à lei


Como milhões doutros desde Março estou na situação de condenado ao isolamento, cumprindo pena de prisão domiciliar e com o favor de umas fugidias ocasiões para respirar ar fresco. Não serei eu a discutir os prós e os contras do mandamento que de uma maneira ou outra a todos afecta, para isso há sobra de comentadores e especialistas de ramos variados, qual deles o mais histérico a anunciar o terror da morte lenta por asfixia.
Deus lhes perdoe e a mim também, que comecei a escrever isto com outro propósito e me ia deixando arrastar pelo pasmo de que não seja necessária uma ditadura para nos cortar a liberdade de maneira tão radical e, dolorosa surpresa, com o apoio da maioria.
Estou pois fechado desde Março e ontem telefonou uma amiga dizendo que me viria entregar um documento, o que aconteceu a meio da tarde. Ao toque da campainha abri a porta, encarámo-nos, o documento provavelmente caiu, só recordo que nos abraçámos e beijámos com a amizade que nos temos há décadas. Ficou para um café, depois para jantar e uma maratona de conversa, deixando-me o curioso sentimento de como era boa a vida no antigamente de Fevereiro passado, como podem ter tanto valor os beijos e os abraços da amizade e o gosto que dá desobedecer ao que manda a ditadura..