Tanto especialista com a melhor
solução, tanto político com as medidas mais adequadas, tanto comentador a
defender a sua opinião e a apoucar a dos outros. Nós, condenados a esta bizarra
pena de prisão sem grades, uns a perguntarem-se quando lhes chegará a vez,
outros certos de que a má sorte cairá ao vizinho, todos favoráveis a que se
alguém tiver de ir então que sejam os maiores de oitenta anos, porque já
viveram, nada fazem e incomodam, ocupam os lugares de que outros precisam.
Eu, que daqui a um mês vou fazer
noventa, tenho pena dos que sofrem e alegremente me aborreço com os profetas de
toda a espécie, os tontos que aplaudem e cantam às janelas, mas aflição é
sentimento que deixo ao semelhante, porque bem podem os peritos assegurar e os
políticos prometer, o vírus não tem agenda, anda por onde quer e escolhe às
cegas.