segunda-feira, março 30

Na prisão sem grades


Tanto especialista com a melhor solução, tanto político com as medidas mais adequadas, tanto comentador a defender a sua opinião e a apoucar a dos outros. Nós, condenados a esta bizarra pena de prisão sem grades, uns a perguntarem-se quando lhes chegará a vez, outros certos de que a má sorte cairá ao vizinho, todos favoráveis a que se alguém tiver de ir então que sejam os maiores de oitenta anos, porque já viveram, nada fazem e incomodam, ocupam os lugares de que outros precisam.
Eu, que daqui a um mês vou fazer noventa, tenho pena dos que sofrem e alegremente me aborreço com os profetas de toda a espécie, os tontos que aplaudem e cantam às janelas, mas aflição é sentimento que deixo ao semelhante, porque bem podem os peritos assegurar e os políticos prometer, o vírus não tem agenda, anda por onde quer e escolhe às cegas.