domingo, novembro 10

Uma repetição




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Agradecimento à Sociedade Portuguesa de Autores, por premiar  O Meças como o “Melhor Livro de Ficção” – 2017


Senhor Presidente da República, minhas senhoras, meus senhores,

É muito o que se pode aprender na escola, e importante, se não essencial, o que se aprende no dia-a-dia. Esta afirmação faço-a eu sem autoridade nem experiência, antes por ouvir dizer.
Na escola fui por vezes cábula e repontão, mas, sorte que me coube, entrei na vida e tenho andado neste mundo com passaporte de turista, alegremente e à ligeira. É assim que há quase nove décadas por cá passeio, interessado em ver, divertir-me e maravilhar-me, mas pouco hábil em participar, tendo apenas feito o indispensável para, sem grande embaraço meu ou irritação alheia, dar pouco nas vistas e manter uma aparência de funcionamento normal em sociedade.
Por conseguinte, espero que desculpem o meu laconismo, dado que, pelos motivos acima, além de desconhecer o ritual destas solenidades, é quase nula a experiência que tenho da recepção de prémios. Deram-me um em 1939, ao terminar a quarta classe – uma caderneta da Caixa com 50 escudos – e o segundo vim a recebê-lo em 2012,  setenta e três anos depois.
Razão de sobra para agradecer à SPA o ter premiado “O Meças”, tanto mais que tenho ouvido dizer que é um mau livro, redundante na escrita, cheio de sombras e violência, mostrando um Portugal que não existe, e que nem um único dos seus personagens desperta uma ponta de simpatia.
Agradeço também a generosidade do Fernando Venâncio, que se prestou a fazer de ventríloquo.
Agradeço ainda aos presentes que, embora não tenham vindo especialmente para mim, me confortam na ilusão de que as Artes e as Letras têm seguidores, infelizmente não tantos como o Facebook.

Desejo-lhes uma boa noite.
………

Nota: Por me encontrar ausente este texto foi lido por Fernando Venâncio, que modestamente eliminou a frase em que era referido.