Sobre o meu avô paterno escrevi em Ernestina:
“Deixou fama como caçador. O resto que sei catei-o
em papéis soltos, ou nos cadernos de papel esverdeado e pautado que ainda
guardo e que ele usava para anotações.
No topo de cada página lê-se em maiúsculas:
«Alfândega do Porto». Na margem esquerda, numa linha vertical: «Remessa de
documentos para a sede». Com a sua mão a guiar o meu dedo, foram essas as
primeiras palavras que me ensinou a soletrar. “
O acaso fez-me descobrir ontem um desses cadernos em que por
volta dos doze anos comecei a escrever histórias, e só os que não conheceram
esse tempo acharão estranho que se lhes diga que o papel era coisa rara e cara,
muito poucas as casas onde o havia.