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Se bem que três
décadas de docência não tenham abalado de todo essa minha utopia do instituto
universitário, e mantenha alguma esperança, verdade é que do confronto com a
realidade poucas ilusões me restam.
Mais do que a
subserviência de boa parte dos colegas para com tudo que fosse poder ou
superior hierárquico, desiludiu-me sobretudo o inesperado, e para a minha
inocência improvável, maniqueísmo dos estudantes, tão prontos a negar
evidências, como em insistir serem senhores e donos de soluções para o caos do
mundo, bastando dar-lhes o braço e seguir com eles o bom caminho.
São os
descendentes desses maoístas e terceiro-mundistas que hoje enchem a boca com os
perigos do aquecimento global, a urgência de energias limpas, os malefícios do CO2 e umas quantas novidades mais. Não aceitam
que os contradigam, demonstrando um conformismo que é a negação do espírito
universitário em que se educaram, do qual não se espera obediência, mas que seja livre no ajuizar e
na investigação.
Semelhante
mentalidade contribui para tornar impossível o diálogo, pois os membros dessas “elites”,
quase diria seitas, tendem para a histeria política, mostrando-se mais inclinados
a seguir o que é moda e os ditames do grupo a que pertencem, do que os do
próprio raciocínio, ou as razões alheias, o que os predispõe para uma mentalidade
de carneirada.
Possuem também um
inerente anseio em se manterem do lado “bom”, de sem espírito crítico ou
discussão aceitarem as “boas” instituições; de verem o aspecto “positivo” da avalanche de refugiados; de
imporem os “bons” hábitos alimentares, etc.
No que respeita a
energia só conhecem uma solução aceitável, a sua, em que ela é “limpa”, embora
cuidem que perto donde vivem não se instalem moinhos de vento. São
infalivelmente bondosos e compreensivos para com os refugiados, correm pressurosos
a salvá-los das águas do Mediterrâneo, mas não os querem no seu bairro, antes
se esmeram para que os acomodem longe.
Entristece
constatar que, a respeito da política, das questões sociais e das tragédias dos
nossos dias, muitos dos que gozaram um ensino superior se distingam por um
comportamento de rebanho. E que quando, por acaso, pensam duas vezes antes de
agir, não o façam para defender uma opinião pessoal, mas para evitar que os
julguem dissidentes.
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Publicado na DOMINGO CM