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O enredo que imaginou é mais ou menos assim: ela odeia a mãe. A ele calhou de repente uma herança. O terceiro personagem, sem razão clara de donde lhe vem o ódio, tem ideia de que há-de matar um deles, talvez ambos.
Ao acordar, o jovem escritor, "viu" claramente
as cenas, "ouviu" os diálogos e, como em transe, escreveu de um jacto:
"Sinto-me como
se fosse eu o alvo preferido de não sei que poder oculto ou, tal um escravo, me
tivessem posto à sujeição de vontades alheias, que dispõem de mim e me forçam a
proceder de um modo na aparência lógico, razoável, mas que na prática se mostra
insensato.
Por certo vem daí a
insegurança de que não consigo libertar-me, a hesitação em agir, o receio de
que, por princípio, qualquer iniciativa que tome seja desatinada ou contraproducente.
Marca-me também o
ser filho de pai incógnito e mãe solteira, ferrete de que não me livro, embora
tenha deixado de ser o vexame que nalgumas alturas me levou a compreender como
é fácil perder o juízo e dar um passo irremediável.
Numa salvei-me por
um triz, noutra acudiram-me, desde então olho com pena para o rapaz que
fui, os medos que demorei a vencer, as ocasiões que perdi".
Parou aqui, ignora quantas vezes o releu, pergunta-se que
mistério será o ter livro na cabeça há tanto tempo e ser incapaz de o passar ao
papel.