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Uns gostam, outros suportam-nas com um sorriso e aqueles acenos que demonstram interesse. Os que são como eu ressentem tonturas. Falo daquelas conversas em família ou entre amigos, quando tudo parece girar em torno do que a avó disse, da doença do tio, do preço da gasolina, de como o almoço estava bom, mesmo bom, mas nada que se compare àquele do ano passado, na Mealhada. Vocês lembram-se? Quando a tia Aurora ao levantar-se da mesa escorregou e partiu a perna? Se fosse hoje...
Aborrecimentos assim fazem-me
devanear, enchem-me de inveja de não ter vivido na Viena dos primeiros decénios
do século passado, ou na Madrid da mesma época, quando a conversa de café se
elevou à qualidade de verdadeira arte.
Comparando o espírito desse
tempo com o meu próprio, o da gente que me rodeia, ou as graças tolas que a
televisão debita, nem é preciso que chova às bátegas, como neste fim de manhã,
para me pôr a olhar para o frasco de Valium com apetites de alcoólico. E
vontade de me meter na cama. Com o livro que me fala de homens desse tempo, e
onde encontro frases como esta de Ferenc Molnár (1878-1952): “É um mentiroso de
tal ordem, que nem o contrário do que ele afirma é verdade”. E ainda esta de
Egon Friedell (1878-1938): “Electricidade e magnetismo são aquelas forças da
Natureza com que os que nada sabem de electricidade e magnetismo tudo
explicam.”