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O eu levantar o sobrolho significa que embora aceite o mundo como ele é, tenho alguma dificuldade em acompanhar-lhe o ritmo, e constantemente me esforço para não deixar cair os queixos.
Em vez de ajudar a
compreender e, até certo ponto, abrandar o impacto da novidade, o ter visto
suficiente mundo e passado oito décadas de nada adianta, porque as mudanças,
além de cada vez mais drásticas, sucedem-se de maneira a que, ainda a
refazer-me da última, já a próxima me cai em cima.
Um noite, há bons trinta
anos, estando com um grupo de amigos num bar de Amsterdam, tive a surpresa de reconhecer
uma estudante minha na rapariga que de microssaia e topless nos servia os martínis.
Talvez por me ver perplexo,
explicou ela, alegre e despachada, que era trabalho fácil, três noites por
semana, e de excelente paga. Uma colega, também estudante minha, viria explicar
depois que já tinham amealhado o suficiente para três meses de férias no Brasil.
Bons tempos.
Vi-o em Setembro do ano
passado, mas pelos jeitos levou-me até agora a digerir um documentário realizada
pela Evangelische Omroep (Emissora
Evangélica) acerca da prostituição no meio estudantil na Holanda.
Números não puderam
adiantar, ficamos a saber que o fenómeno alastra. Chocante, pelo menos para
mim, foi a naturalidade com que os entrevistados falavam de si próprios, da sua
motivação, o excelente proveito – de 300 a 2.000 euros por noite – o atractivo
de luxo, de viagens a New York, Dubai, os presentes, tudo isso sem qualquer
pejo, elas e eles de cara descoberta, queixando-se apenas da fatia que lhes abocanha
o fisco.
A palma, quanto a mim,
levou-a doce rapariga que se prostitui há três anos e candidamente confessou
que lhe falta apenas um semestre para terminar um Masters em gestão de empresas e se irá estabelecer por conta
própria.
Comigo já não é só a idade que pesa, sinto que estou a ficar velho para a vida.
Comigo já não é só a idade que pesa, sinto que estou a ficar velho para a vida.