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É tentação que por vezes me toma, mas avisadamente logo afasto,
começar aqui uma correspondência aberta, misturando pessoas de carne e osso com
personagens inventadas, exclusivamente mulheres, e desse modo semear entre as eventuais
leitoras um apetecível frisson,
acordando também num ou noutro macho o desejo de aprender a esquecida arte da
galanteria.
Os azedos poderão repontar que devo ter juízo,
não esquecer os anos, mas a esses direi o que talvez ignorem: o modo de estar
na vida tem pouco a ver com a idade e quase tudo com o gosto do risco.
Razão essa de haver tanto
velho de trinta e quarenta, e – julgando pelo que leio e oiço – tanta mulher
desesperada de se dar conta que a juventude são dois dias, de como o tempo do
entusiasmo, da alegria, dos ardores, dos beijos ao luar, parece, segundo a
imagem clássica, que se lhe escapa fugidio como água entre os dedos.
Seria uma correspondência de consolação e gentileza, um
trocar de vivências e esperanças, talvez um bálsamo para aquelas horas passadas
a sonhar o que poderia ter vindo, ou consolo para o negrume das insónias.
Aqui chegado dou-me conta de que, por deformação
profissional, por vezes nem reparo se o que escrevo é o que realmente penso e
desejo escrever. Ámen.