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Para todos é diferente, ninguém pode afirmar com certeza
se os anos trazem mais vantagens que perdas, ou vice-versa.
Ao recordar o tempo longínquo da minha adolescência,
tropecei por acaso num acontecimento que fundamente
me tocou: o anúncio do fim da Segunda Guerra Mundial, e isso tanto pelas circunstâncias, como pelo entusiasmo
com que participei nesse dia, que tanto augurava da esperança de tempos
melhores.
Nunca mais, em momento nenhum da vida que para mim estava
no começo e vai longa, tornaria a experimentar um tal e tão forte sentimento de
união, de solidariedade, de pertença a algo imenso, superior, que sem apagar a individualidade me encadeava a uma força que transcendia o
entendimento.
Há muito perdi a conta dos momentos felizes da minha
vida, o que é de bom agouro, mas nunca mais, como nessa tarde, uma semana antes
de fazer quinze anos, voltaria a sentir o arroubo de me perder numa massa de
povo e conhecer a felicidade da pura união.
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(*) Festejos no Porto ("Jornal de Notícias", 8 de Maio de 1945 /Hemeroteca de Lisboa)