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Há dias em que a miséria do mundo nos cai em cima. Sem
aviso. Como as trombas de água ou as trovoadas de Agosto. De nada adianta
fechar os olhos e os ouvidos, a miséria alheia não arreda pé, obrigando-nos a
testemunhar, chamando a recordação dos nossos maus momentos.
Às luzes e às fantasias dos concertos de rock, festivais,
eventos, feiras, exposições, "milagres" do Facebook, notícias de êxitos e vitórias, opõe-se o negrume da
pobreza, o espantalho da fome e da humilhação, o descarte daqueles a quem a
sociedade não dá lugar.
Raro passa semana que me não chegue o SOS dum e doutro
compatriota, mensagens terríveis de aflição, tanto mais trágicas porque vêm de
desconhecidos que se sentem afogar sem esperança de tábua que os salve.
Criados no país da cunha, do jeito, do favor, ingénuos bastante para se alegrarem com a
valia daqueles diplomas festivos que
nada são mas muito parecem, descobrem-se sem juventude e sem futuro, não
acreditam que ninguém oiça os seus gritos.
……..
Nem a Kafka ocorreu a ideia de um país onde os banqueiros
recebessem milhões, ignorando porquê.