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Chega sempre o momento em que nos perguntamos qual é o
propósito de certas amizades, de certas conversas, o que é que nos leva a tomar
este ou aquele ponto de vista, a fingir que participamos, quando no fundo é
escasso o que importa e o que pessoalmente para nós conta.
É certo que a vida em sociedade exige o ritual, pede o
teatro, ninguém pode andar com a alma à mostra, ou abri-la com a mesma inocência com que às
vezes se exibe o corpo. Mas quanta saliva gasta, quanto tempo perdido, tanta
energia desbaratada sem que se adivinhe o que rende ou que moinhos a aproveitam
Não é que ao fim do dia me ponha a contabilizar a
utilidade do trato social, apenas me
toma um sentimento que balança entre a irritação e o desalento, de ver que
também eu faço o que não quero, afirmo o que estou longe de pensar, gasto-me em
salamaleques que só a contragosto, ou por necessidade do enredo, atribuiria a um personagem de romance.
Esse teatro derreia, leva a fazer má cara ou, pior ainda,
a afixar o sorriso da hipocrisia