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Conversa sobre o passado, para ele longínquo, que é
grande a carrada de anos. Mas à medida que vai contando descaem-se-me os
queixos, custa acreditar que, chegado àquela idade não se mostre como é,
não conte como de verdade foi, mas, à maneira das anciãs que desdenham do
espelho e acreditam em cremes, também ele julgue iludir com a cosmética do pensamento
elevado, das atitudes nobres, do alto grau intelectual da correspondência que
logo na juventude trocou, certo e seguro dos píncaros a que iria subir.
Subiu. A Pátria,
honrada com tal filho, mandará esculpir estátuas e fabricar tabuletas para as
ruas com o seu nome.
Mas eu, que também venho de longe, fora que o estrabismo
de que devia sofrer nos olhos provavelmente me atacou o cérebro, vejo-me a interpretar
a prosápia doutro modo.
Ademais, incomoda-me a boa memória que tenho, pois guardo
viva a recordação das pulhices, das sacanices, traições, golpes baixos, mentiras,
denúncias, perguntando-me porque a perdeu ele, ou com que lixívia se branqueia.