(Clique)
Ouve-se o caso à mesa do almoço, o cérebro
regista uma ou outra frase, uma cena, uma imagem, e passa-se à sobremesa,
bebe-se o café, esquece-se o sujeito.
Mais tarde, involuntariamente, recorda-se a
conversa, formam-se outras imagens, abana-se a cabeça em descrença, vão-se
inventando desculpas para um procedimento assim, talvez seja herança genética,
resultado da educação que nem os pais nem a escola lhe deram, maus exemplos,
mau destino.
Talvez seja tudo isso. Insidiosa, porém, levanta-se
a questão: será caso único nos detalhes, todavia, guardando as proporções
quantos, e cada um à sua maneira, da chamada plebe à suposta burguesia rica, do
malandrim ao advogado, do escriturário ao ministro, não fazem igual?
Dizem-no inteligente e capaz em tudo a que
deita a mão: electricidade ou carpintaria, soalhos, telhados, aquecimento, é
chamá-lo e ele fá-lo perfeito como deve ser. Mas por regra trabalha três dias
por mês, que esse ganho e a pensão da mãe lhe bastam.
O resto do tempo dá umas
voltas no BMW.