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Por mim evito-o, faço-o a contragosto quando mo pedem, sei por experiência que falar do antigamente resulta em conversa de surdos.
A quem nasceu, digamos, nos anos sessenta, não há modo de
explicar a vida nas três décadas anteriores. Foi colossal a mudança, são
abissais as diferenças, parece história da carochinha o falar de um tempo em
que a rádio e a telefonia eram privilégio de muito poucos, a televisão inexistente, a
internet um sonho de mágicos; um tempo de biplanos diminutos recobertos de
lona, o aviador a acenar; de cegos nas esquinas cantando histórias de mortes e milagres;
de aguadeiros, almocreves, recoveiras, carrejões, amoladores, fogueiros
tisnados, oficiais de pingalim e boldrié, soldados com patronas. E tanto mais.
Agora a prova dos nove: que, até de sobra, você é pessoa interessada e
curiosa do passado, não duvido; mas além de pouco lhe dizer o que
acima fica, aposto que não irá ao dicionário, ou ao Google, em busca do
significado dos dois, talvez três, vocábulos que desconhece.