Por falta de olhos,
de coração, arrogância demais e escassa humildade, tomam a superfície por
fundura, imaginam cores onde só há cinza. Aos rapapés de sécias e peralvilhos,
abraçados na dança ritual da auto-satisfação, diz um que vê Eros e cópulas na
horizontalidade do oceano. Pois verá, que são de todos os tempos os que o
Espírito visita, mas tu, eu, mais uns quantos, só vemos ondas, rebentação, o
fim de água que se perde no horizonte, o vento a soprar o areal.
Assim nos vamos
enganando e desenganando, aos saltos, aos trambolhões, cai aqui pára além, ora
crentes, depois aflitos e desesperados, medrosos, evitando olhar para o que
fica, querendo amanhãs que nunca chegam, polindo a memória até que nela só
reste o que brilha.