Temos um premente desejo de comunicar, e é
tão difícil realizá-lo. Passamos de lado, escolhemos mal as palavras, os
gestos, os sorrisos, vemos nos olhos do outro que o que lhe chega das nossas
palavras pouco lhe diz, no pior dos casos o deixa aturdido, desconfiado,
supondo hipocrisia na sinceridade.
A arte de comunicar exige mais do que palavras
e, para nosso mal, nem todos possuímos no íntimo emissores afinados, ou
antenas sensíveis o bastante para captar o que se intercala entre o que dizemos
e o que nos dizem. Há ainda as circunstâncias, o momento, por vezes até a
idade, que numas ocasiões manda calar e noutras proíbe ouvir o que nos
sussurram.
O desejo de comunicar permanece, mas com
ele fica também o sentimento de incapacidade, a dúvida, a pergunta para que
raro temos resposta: que poder ou medo trava em nós o que de facto queremos ou
julgamos dizer?