É grande alívio depurar o passado. Ou tentar esquecê-lo. Limar as arestas dos momentos que perturbam o sono e se tornam pesadelo.
Ambos sabiam que não era amor, nem sequer amizade,
pura e simplesmente ataques de luxúria, brutais, erupção vulcânica de sentires
que desconheciam, a cama um campo de batalha, cada encontro uma luta de feras.
A primeira vez ainda tinham imitado beijos,
fingindo carícias e ternuras, mas perderam-se no momento em que o acaso lhes
fizera descobrir que procuravam o mesmo, que não tinham de esconder nem dar-se
tréguas.
Uma tarde, deitados lado a lado, ofegantes,
exaustos, viu-a sorrir e quis saber.
- Nunca me teria passado pela cabeça –
respondeu ela.
Apertou-lhe a mão, ela
correspondeu entrançando os dedos nos seus. Esse, recordaria ele muito depois,
tinha sido um dos raros momentos de confidência, quase de ternura.
Respeitou-lhe a vontade quando ela disse
que não voltaria, que é melhor decidir o fim do que aguardar que ele nos
surpreenda e magoe.