Vivi boa parte da minha vida sem agenda,
assim a modos de querer provar que, mesmo nas alturas de muita agitação e
pressa, a memória supria as necessidades.
Mas a vida complica-se, às obrigações da
família e dos amigos juntam-se as visitas ao médico, as análises aqui, os
controles acolá, o dentista, o fisco, a garagem, o canalizador…
Do desleixo antigo mudei para um quase
maníaco cuidado e, temendo as faltas de pontualidade, logo em fins de Agosto
ando de olho nas livrarias à espera de agendas.
Já tenho a do ano que vem. Preenchi as
datas dos aniversários e das obrigações ainda remotas, como uma ecografia às
onze da manhã do dia 9 do futuro Setembro, a consulta do cardiologista uma hora
depois, e assim por diante.
Esta tarde, olhando as páginas, ocorreu-me a
falácia do meu cuidado: é desafiar o Altíssimo esperar d'Ele certezas sem lhe
conhecer a agenda.