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Calo ganha-se nos pés, incómodo do muito que andamos. Criam-no nas
mãos os que com elas trabalham. Calo doloroso ganha-se na alma,
aquela parte de nós onde constantemente embate a malvadez alheia, a
malquerença, a inveja, as mil gotas de veneno que tantos cordialmente
dispensam, uns com o ar de displicente superioridade, outros mostrando a sanha de cão
que guarda osso.
Dá-nos Deus possibilidades imensas, campo de sobra, um
Sol que a todos aquece, mas nem isso aquieta os mesquinhos, roídos de ciúme
pela serenidade alheia, o pão que o outro come e a alegria que mostra, o descanso
que ganhou. Morder, odiar, achincalhar, torna-se-lhes segunda natureza, vivem
nesse pântano como peixe na água, iludidos pelo poder que se inventam, as
certezas que se dão, a triste crença de se verem de tribuna e que uma multidão
os aplaude.