Ao jovem e simpático jornalista que me
entrevistou, falei com a franqueza que me merece o interlocutor. Leio agora que,
devido ao meu frequente uso de vernáculo, sente ele que vai ter dificuldade em
editar a nossa conversa,. Assim será, pois talvez no mundo em que funciona seja
de bom uso a linguagem elíptica e, para não ferir susceptibilidades, se evite
chamar às coisas pelo seu nome.
Mas eu, que não tenho de dar contas, de
ninguém dependo, quando falo aproxima-se-me o coração perigosamente perto da
língua. De modo que se no comportamento o sujeito se mostra um filho da puta, é
esse o predicado que de mim leva. Acho isto e aquilo uma merda, pois assim lhe
chamo, sem ter de me encostar a Gil Vicente, Bocage, ou mais clássicos, apoiado
tão só na língua que herdei, falo, me é muito querida pela subtileza que
permite, de par com expressões que, para meu consolo e aborrecimento alheio,
acertam no alvo.
Há que ter peso e medida, de mim ninguém
ouvirá caralhadas, mas a harmonia na terra entre os homens de boa-vontade não
se mantém à custa de falácias e rodriguinhos, sim com equilibrado decoro, lisura
e, quando oportuno, um sonoro e vernáculo bordamerda.