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Tinham-me dito que assim seria, e contudo surpreende. Mudam os ambientes, mudam os cheiros, estranho as ruas que tão bem conheci e onde agora passam outras gentes, com outros modos. Os ruídos são diferentes. Nos corpos e nas caras, nos gestos, leio expressões novas, algo que me põe à distância e recorda o tempo em que me sentia estrangeiro e tudo era novidade.
Dão-me a vez, cedem lugar no eléctrico, afastam-se deixando-me passar, oferecem o braço nas escadas. Graças a Deus ainda dispenso ajuda, mas a cortesia não é apenas dar, é também saber receber, por isso aceito o braço, sorrio, agradeço. De bom grado, por vezes exagerando, desempenho o papel do idoso frágil e simpático. Escondo que assim me põem de parte e, sem querer, por bem querer, discriminam e magoam.
Mas aceito, não lamento. Revejo-me neles. Também tive pressa, também julguei que os outros pouco mais eram que paisagem. A paisagem que eu agora para eles sou.