Gostaria, mas por pouca cabeça e insuficiente leitura, não me é dado, assim a meio de uma conversa, citar Platão ou Nietzsche, Sócrates (o filósofo), poesia de Juvenal, ou referir uma daquelas frases lapidares dos clássicos que dão aura de sabedoria.
Os interlocutores também nunca são gente a quem eu, dizendo, como Lucrécio, Accidere ex una scintilla incendia passim, responderiam, valendo-se de Horácio, Aequam memento rebus in ardis servare mentem. (*)
Estou a brincar. É que me arreliam sobremodo os pedantes, os vaidosos que atiram uma frase de Tolstoï e logo o amigo replica com outra, mais profunda, de Melville. Põe-me de través, aquela ânsia da diferença, da elevação, de se quererem mostrar cultos em extremo, tão lidos e acima do vulgo que leva a duvidar se têm funções do corpo.
Tenho mais com que me entreter ou incomodar, mas nem sempre consigo o equilíbrio desejado. Também pode ser do nevoeiro que dura, de noites mal dormidas, digestões pesadas, certo é que, ao contrário do meu desejo de paz e quietude, começo o dia com uma grande vontade de dizer: Porra!
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(*)Accidere ex una scintilla incendia passim (basta uma pequena fagulha para um grande incêndio).
Aequam memento rebus in ardis servare mentem (cuida de manter a calma nos momentos difíceis).