É tema para interessar sociólogos, a diferença de como na Holanda e em Portugal se reage a um presente.
Os holandeses, que passam por frios e distantes, quando se lhes oferece algo são prontos no agradecimento. Forretas também são, mas no momento apropriado mesmo o mais somítico lá vem com o ramo de flores, a garrafa de vinho, um livro, a caixa de bombons.
No geral da minha experiência - como sou azarento, Deus queira que seja única - o português é tosco no agradecer.
Presente de casamento, aniversário, livro, cerejas do quintal, ovos da capoeira, carote ou modesto, as mais das vezes ele/ela simplesmente "esquece" de agradecer a prenda, ou recebe-a com um ar displicente que tanto pode ser acanhamento como repulsa, fecha-se em copas, dando ideia de que merecia mais e melhor. Às vezes consegue produzir um som incerto que se assemelha ao "Obrigado", ao mesmo tempo que olha de través, como se o receber lhe fosse insulto.
Será que deformo? Haverá nesse proceder uma razão atávica? O orgulho tolo de se julgar superior ao ofertante? Aquele medo de que só o necessitado recebe?