Ando descontente com as minhas recordações, dá-me impressão de que nos últimos tempos as agito num crivo e só deixo passar as más, assim a modos de retocar a imagem e dar-me ares de sofredor.
Recordações de pessoas, diga-se. As outras, paisagens, momentos, aventuras, riscos, golpes de sorte, encontros felizes, tudo o que faz a parafernália da vida, essas acarinho-as num álbum que tenho cá dentro. E raro mostro.
Por isso me pergunto que tendência é esta que eu e tantos temos de cair no soturno. Será para que nos achem interessantes? Para que nos apapariquem com carinhos? Será a fome de cumprimentos imerecidos mas desejados?
Estive a recordar ocasiões, fiz contas, cheguei à conclusão de que a coisa deve ser fifty-fifty. Mas esta manhã, por volta das seis, quando o levei para o passeio matinal no parque, o cão pôs-se tão rabugento que às tantas perdi a paciência. Ralhei-lhe. Ele, desobediente, abanou o rabo – o equivalente canino do manguito - e deitou a fugir.
Lá se me foi a ideia do fifty-fifty. Se na minha vida há uma ou outra réstia de sol, bem vistas as coisas tudo são aborrecimentos, tenho razões de sobra para andar descontente e me sentir infeliz.