quarta-feira, junho 22

Escrever


Escrever sobre isto? Aquilo? A senhora que a entrar na velhice se vê menina e faz beicinho entre as frases? A dor do ancião às portas da morte? Escrever sobre a admiração que me causou aquele livro? O desconforto do sol a pino? Os filetes de pescada, que não estavam como deviam estar? Sobre a cena que presenciei ontem no café?
Cinco senhores, cada um com sua cerveja. O cãozito aproximou-se a farejar as migalhas que havia debaixo da mesa e, autómatos mecânicos, cada cavalheiro presenteou-o com um pontapé. E mais um para apressar a despedida. O que não tem a ver com a crueldade para com os animais, mas é aviso de que devemos evitar os bichos que só são gente na aparência, na galhofa, e no gosto pela cerveja.
Adianta escrever? Não. Momentos, sentimentos e pensamentos são relâmpagos, e as palavras ficam sempre aquém.