Daqui a nada repete-se um choque dos meus quinze anos, o qual, desde então, me enche de melancolia: vou sair do Porto.
De nada adianta dizer-me que que tudo mudou, que a minha adolescência desapareceu há quase um século, se hoje mesmo me der vontade de retornar nada mo impedirá. O que todavia conta, e não consigo eliminar, é a impressão do instante em que irremediavelmente me despedia de Gaia, onde nasci, e do Porto, onde descobrira as alegrias de começar a aprender o mundo.
Sentado na cabine de um barulhento camião a gasogéneo, ia sombrio, impedindo-me de olhar para trás, indiferente à paisagem que se desenrolava. Mais que uma sensação de perda ou mudança, tudo parecia um prenúncio de nuvens sombrias, as que precedem a tempestade e carregam consigo o mistério daquilo que, por desconhecido, aterroriza.
E assim me sinto agora, sem as razões de então, mas ainda fascinado pelo mistério de um sentimento que permanece estranhamente duradouro.