sábado, maio 21

História de amor


Duas mulheres. Duas desconhecidas. Ambas a rondar os quarenta, ambas mães de filhos. O pouco que mostram nos seus escritos e o que neles sugerem, aumenta-o a lupa da minha fantasia.
Imagino-lhes vivências, sonhos, os desejos e as raivas, o que deixaram pelo caminho, o que não tiveram a felicidade de encontrar. Moldo-as à perfeição – a minha perfeição – em torno da inteligência que demonstram e dos momentos sensíveis que ambas tão bem descrevem, aqueles pequeninos detalhes que são a fresta por onde se espreita um mundo, o seu mundo.
Se alguma vez o tiveram, o sentiram, viveram, ambas parecem ter perdido o amor, foram decepcionadas por ele, ou talvez tenham posto a craveira na altura irreal que só os vinte anos e os romances garantem.
Ressudam fúria contida, emoções controladas, aquele domínio das aparências de que só são capazes as grandes senhoras que deixaram para trás a febre da juventude, e se equilibram agora no fio de navalha que precede a meia idade. Temendo o horizonte, mas ainda com esperança de momentos felizes, embora fugazes. Sim, fugazes, sempre fugazes. A experiência ensinou-lhes, pagaram caro em melancolia e dor, que os grandes clarões de paixão são fugidios, o prazer único, irrepetível.
Penso nelas e, com frequência que preocupa, a voz segreda-me que merecem um romance, uma história de amor. Não coisa escrita em letras e palavras, mas história de verdade, daquelas que realmente acontecem e, de tão belas, parecem filme. A ambas de todo o coração lho desejo.