terça-feira, novembro 9

Palavras

O modo como ela sussurrou aquilo ao vê-lo entrar no carro, e no mesmo instante me vieram à memória frases que na meninice prenunciavam cenas de comédia bufa.
- Olhe a pressa! Vai ver a amásia!
Deu uma piscadela, continuando: - Deixá-lo ir! A minha santa mãe, que Deus tenha, bem dizia: quando casares come sempre antes de ele chegar. Se te bater já tens a barriga cheia, se vier bem disposto voltas a comer.
Sabedoria que parece de outras eras, mas por estas bandas mais corrente do que pensam os inocentes. Antigo, sim, o vocabulário. Porque quase desapareceram as amásias, de ninguém se diz que anda  amigado ou vive junto, e de amizades como unha com carne raro se ouve falar. Outras palavras há que, quando por acaso surgem dos recônditos, ainda me põem em alerta.
-  Ó mãe, o que é panasca?
A lambada, se  me tivesse apanhado, era das de perder os sentidos, pelo que depois, cauteloso por experiência,  preferi esperar anos do que querer saber logo se fressureira, o que diziam que a Teodora era nos armazéns do Calém, seria emprego que pagava melhor do que engarrafadeira.