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Lembraria ao Diabo? Provavelmente, porque é especialista em tentações, mas ela não lhe fica atrás, ao contar a cena o seu lindo sorriso aproxima-se do diabólico.
O Batoque, alcunha que lhe dão na Câmara, tinha preparado bem as coisas. Seria sexta à noite, quando a mulher ia para a formação e a pequenita ficava com a avó.
Ao mesmo tempo que o beijava na face não pôde deixar de sorrir com a transparência da estratégia. Diminuíra as luzes, sobre a mesa arranjara os pratinhos de amêndoas e avelãs, a garrafa de Jack Daniel’s, a marca de que ela gosta, copos de cristal, os sofás frente a frente.
Sorriu também de vê-lo de calções, t-shirt, os pés numas sapatilhas de plástico azul, curioso traje para um D. Juan. Ele cumprimentou-a pela elegância, arregalou brincalhão os olhos para o decote, seguiu a tira de ventre nu, parou-os na minissaia, disse que achava aqueles brincos muito bonitos, e o colar também, bonito mesmo.
Beberam. Falaram dos colegas, das dificuldades com o presidente, da estrada nova, das obras do saneamento. Falaram de música. Falaram de cinema. Para ele cineasta nenhum igualava Woody Allen. Se bem que… Tinha ela visto Basic Instinct? Formidável. Havia outros bons, muito bons, só que no Basic Instinct!
Garante, mas a gargalhada contradi-la, jura que foi por acaso, nem estava a pensar, ao cruzar as pernas demorou talvez dois segundos em vez de um. E a ferramenta do Batoque inchou nos calções, tremia-lhe o queixo, bebeu com a pressa de quem decidiu.
Foi então que o telemóvel tocou e ele falava ainda quando a porta se abriu e a mulher, beijocando, disse que a formação acabara mais cedo, e que se o Gabriel lhe tivesse dito que senhora engenheira vinha, nem tinha saído.