Foi ontem. Uns atrás dos outros tinha eu ouvido relatos de tristezas e doenças, de como são longas as noites de solidão, grandes os medos da mulher que se sente já viúva, mesmo que todas as manhãs o homem telefone do hospital, prometendo que escapa. Rostos marcados por dores que se não contam, ou então disfarçam, dizendo que aconteceu a outro. O sorriso que ele força quando aponta a braguilha – "Vão-me meter a faca, mas se não me acautelo ainda me cortam os tomates"- a fingir a coragem que perdeu.
Muita sombra em poucas horas. Debrucei-me no muro sem saber o que via, nem para onde olhava, o véu da tristeza a esconder o sol e os montes. Como se alguém acenasse a confortar-me, só então dei conta da amendoeira e da mimosa ali defronte.