É gentil, atencioso, e se o comparo a muitos que conheço ganha em sensibilidade e inteligência. O mal é que, mau grado o que nele há de positivo, sofre de uma mais que exagerada inveja. Cumprimento dado a outro, presente que alguém recebeu, alegria que não lhe coube partilhar, festa para que não foi convidado, tudo isso vê como diminuição do que a sua extraviada mente considera ser-lhe devido em exclusivo.
Fosse ele maquinista da CP, caixa num banco, a inveja talvez se restringisse ao ambiente de trabalho ou ao carro do vizinho, mas acontece que o Destino, ao dar-lhe a ilusão de que é poeta, lhe forneceu também um sem-fim de razões de ciúme e sofrimento.
Shakespeare, Petrarca, Camões, Whitman, Pessoa, mencione-se um grande e ele encontrará razões para o considerar menor, e de seguida recordar um dos seus mais recentes poemas:
"Árvores despidas arrimam
os seres na madrugada azul
do
espaço
secreto".